Vai ter auxílio ao final do mês?
A falta de transparência dos órgãos responsáveis da UFMG causou insegurança em estudantes que recebem auxílio da universidade
Por Rafael Silva
Nesse último semestre, uma dúvida pairou a mente de uma parte dos estudantes da UFMG: a Fump terá dinheiro para pagar os estudantes que recebem auxílio?
No primeiro semestre de 2025 alguns alunos, contemplados pela Fump, receberam um email informando que seus auxílios teriam uma mudança a partir de junho de 2025. Surgindo boatos de que a Fundação Gomes Pimentel (Fump) – instituição pública de direito privado, sem fins lucrativos, que tem por objetivo executar a Política de Assistência e Permanência Estudantil da UFMG – não teria recursos para pagar as bolsas dos estudantes no próximo semestre. Os boatos ficaram mais fortes quando houveram denúncias, e a cobrança de um posicionamento da Fump, no Spotted UFMG (página no instagram onde é postado mensagens anônimas).
A instituição utiliza um sistema de nivelamento, em que o nível 1 é considerado mais vulnerável cultural, socioeconomicamente e mais sujeito a evasão, enquanto o nível IV-2 apresenta um panorama menos complicado, mas que ainda carece de atenção. Devido aos cortes na educação que ocorreram nesse primeiro semestre e o aumento de fumpistas (denominação para aqueles contemplados pelos auxílios) nível 1 na universidade, a instituição sentiu a necessidade de tomar esta medida.
A última pesquisa realizada pela Fump em 2023, nos mostra que de 9.277, cerca de 6.012 são estudantes classificados como nível 1, os demais níveis apresentam 1.143 II, 1.578 III, 158 IV-A e 386 IV-B.
Tanto a universidade, quanto a Fump demoraram um tempo considerável para virem a público e explicarem se esses boatos tinham fundamento. Na semana do dia 25/6, a fundação veio a público para explicar e tranquilizar os estudantes sobre o pagamento das bolsas de manutenção e garantir que será feita a entrega do auxílio.

Essa nota emitida pela Fump tem a intenção de tranquilizar os estudantes que recebem bolsas de permanência, de forma a corrigir um erro de comunicação da mesma com toda a comunidade acadêmica.
“Por conta de uma má comunicação dos assistentes sociais junto com os estudantes assistidos, causou um pânico entre os discentes, os que são contemplados e assistidos pela FUMP, pois não ficou esclarecido mesmo, o que seria dado a partir dos próximos meses. Por isso que os estudantes ficaram desesperados.” afirma Lucas.
Lucas Mendes faz licenciatura em Ciências Biológicas, é fumpista nível 1, residente da moradia universitária e fez parte da última gestão do DCE da UFMG pelo Afronte. Ele explica que houve um erro comunicacional gritante que resultou no pânico no imaginário dos estudantes.
“O que aconteceu foi que nesses e-mails que os assistentes enviaram para os alunos fumpistas, se comentava que seria garantido a renovação somente até junho. Mas que após o debate da recomposição orçamentária e desse repasse orçamentário que tinha sido atrasado, que seria feito também, um novo diálogo sobre ampliar a renovação dos auxílios. Inclusive ontem (24/6), na nota que a Fump soltou, foi garantido a renovação dos auxílios das pessoas para além de junho." finaliza.
Ao mesmo tempo, toda essa demora em trazer à luz uma resposta, gerou um caos entre os estudantes. Normalmente, o dia 25 é a data de abertura da agenda da assistente social do mês subsequente, mas quando fomos em direção ao site marcar a consulta, nos foi informado que não havia agenda para atendimento.
Além disso, nos foi relatado por algumas fontes que a Fump realizou o contato via e-mail com alguns estudantes nivelados, para agendar reuniões presenciais com os discentes e encerrar com os contratos de auxílio nesse início de julho.
Essa dificuldade de marcação de horários com os assistentes sociais criou problemas para parte dos estudantes, com destaque para aqueles que precisavam renovar o nivelamento.
“Eu tive problema para agendar uma reunião no mês de maio, tive que mandar a documentação para definir novamente meu nível socioeconômico, mas, devido a alta demanda relatada por eles, não conseguiram marcar, e em junho eu já tinha feito aquela renovação por 1 mês, já nesse mês eu não consegui novamente” afirma Enzo**.
Enzo Viana faz engenharia civil, era nível 1 da Fump e iniciou o mês de julho sem nivelamento. O mesmo percebeu através de outras conversas com fumpistas que não era o único com dificuldade de se reunir com a fundação nesse semestre. O que demonstra que a instituição não tem sido transparente com a comunidade acadêmica quanto deveria.
O estudante de jornalismo Raytê Mendes, veio de Jacareí-SP, entrou no semestre 2025/1 na UFMG e demorou alguns meses para ser atendido pela Fundação. Ele foi classificado como nível 1 no dia 21 de março, e apenas no dia 23 de maio que eles solicitaram os dados para receber a bolsa de auxílio permanência.
“Para nós que não somos do estado ou vivemos no interior, se mudar para uma capital do tamanho de BH é um desafio muito grande, em todos os sentidos, pois muitas vezes você não tem garantia de que vai conseguir se manter aqui no próximo mês, muito por estar longe da família, o que dificulta receber apoio” afirma o estudante.
Em diálogo com o Afronte (movimento estudantil) nos foi informado que a UFMG teve certa dificuldade em alinhar auxílios entre os alunos que entraram em 2024/2 e 2025/1, o que resultou nessa demora para abertura de novos processos de bolsas estudantis para os recém chegados na instituição.
O primeiro período de 2025 se iniciou no dia 10/3, a divulgação da abertura do edital Prae (Pró-reitoria de Assuntos Estudantis) feita pela Fump foi feita dia 25/6, os discentes terão do dia 27/6 ao dia 4/7 para demonstrar interesse nas bolsas de permanência. Ou seja, a universidade divulgou o edital quase 4 meses após o início do semestre. Situação similar ocorreu no segundo período de 2024, em que a notícia de distribuição de bolsas só saiu na primeira metade de outubro.
Atraso e Recomposição orçamentária:
Em decreto assinado pelo presidente Lula no dia 21/3 limitou os gastos das pastas para 1/18, de modo a se adequar ao valor previsto na Lei Orçamentária Anual (LOA) – ela prevê as receitas e fixa as despesas do governo federal para o ano seguinte. No mês de maio, o Ministério da Educação anunciou que a forma de repasse às instituições federais de ensino sofreria uma mudança para se adequar a esse decreto. Os valores seriam pagos de forma parcelada a partir daquele mês: a primeira parcela seria paga em maio, a segunda apenas em novembro e a terceira em dezembro.
Essa postura causou pânico na comunidade acadêmica. As instituições de ensino alegaram que não haveria recursos para pagar auxílios aos discentes e teriam dificuldades de honrar com demandas básicas. Estudantes e as instituições se mobilizaram para questionar essa nova diretriz. O governo sentiu a pressão, e além de voltar atrás, também anunciou um aumento no investimento nas universidades.
Luta dos movimentos estudantis:
Assim como na pauta do banquetaço da moradia, os movimentos estudantis como o Afronte e o Correnteza, puxaram a luta em prol dos alunos assistidos pela fundação, justamente com o intuito de entender e questionar as possíveis retiradas das bolsas de estudos dos estudantes.
O Correnteza realizou manifestação no dia 25 para questionar essa postura da UFMG. Lá, eles conseguiram uma reunião dos estudantes junto com a Prae, que afirmou que não haverá nenhum corte de bolsas da Fump, e que a questão foi uma "falha de comunicação interna". No próximo semestre, foi prometido pelo órgão que se reunirá novamente com os estudantes de forma ampla para debater sobre o assistencialismo estudantil.
“Hoje nosso ato por esclarecimento sobre a suspensão das bolsas da FUMP, notificada de forma informal aos estudantes, saiu do RU I em direção à Pró Reitoria de Assuntos Estudantis, que gestiona a FUMP. Lá, conquistamos uma reunião dos estudantes junto com a Prae, que afirmou que não haverá nenhum corte de bolsas da FUMP, e que a questão foi uma ‘falha de comunicação interna’ estando a FUMP inclusive conversando para alinhar a informação junto de sua equipe.” afirma o post.
O Afronte, na voz do Lucas, nos contou um pouco sobre o que o movimento fez nesse dia de luta pelos auxílios estudantis.
“No dia 25/6 foi feito um ato, que se iniciou lá no restaurante universitário 1 (R1) e nós fomos caminhando até o espaço físico da Prae que é onde ocorria o Natora, que foi cercado e tá hoje lá é o espaço físico onde funciona a Prae e aí a Licínia Maria Correa que é a pró-reitora de assuntos estudantis e a Shirley Aparecida, que é a pró-reitora adjunta de assuntos estudantis, dialogou com os estudantes e explicou a situação.” afirma Lucas.
As lutas coletivas pela permanência estudantil devem ser compradas por toda a comunidade acadêmica e é necessário que os órgãos sejam fiscalizados. Por isso, é importante que as instituições que são responsáveis pela distribuição de recursos sejam transparentes e venham a público explicar o que de fato ocorre, por que só assim teremos ciência de que eles também estão do nosso lado.
“Por isso que para nós é muito importante a gente ter um diálogo claro, para a possamos inclusive dar uma resposta concisa e clara para os estudantes mesmo. Para tentar evitar assim esse pânico total que aconteceu entre os estudantes e tudo mais assim.” finaliza Lucas.
** Nome Enzo é fictício para preservar a identidade da fonte.
Editoria: Júlia Rhaine
Revisão: Gabriel Barcelos