"O pós é onde?"
A madrugada da Capital dos Bares tem sido estranhamente silenciosa desde que a prefeitura limitou o horário de ocupação das calçadas da cidade
Por Júlia Miranda
Se você já passou pela Praça Raul Soares em uma noite de sábado, certamente viu uma cena semelhante à imagem acima. Desde a inauguração dos bares da Galeria São Vicente, em 2022, a vida noturna de Belo Horizonte ganhou um novo destino e que rapidamente conquistou popularidade. Hoje, quase três anos depois, a Galeria conta com mais de dez bares em seus corredores e um público fiel, caracterizando uma jornada semelhante ao Mercado Novo, queridinho da juventude belorizontina.
Além da estética e proposta semelhante, esses dois lugares têm mais um elemento em comum: encerram suas atividades cedo. O Mercado Novo, segundo o Instagram, fecha à meia-noite, mas a entrada só é permitida até às 23h. Já a Galeria fecha às 1h da manhã e, a partir das 23h, já não podem entrar novos clientes em seu espaço. Quando a hora de fechar se aproxima, burburinhos trazem aquela velha pergunta: o pós é onde?

Desde fevereiro de 2024, a prefeitura de Belo Horizonte proíbe mesas e cadeiras nas calçadas da cidade após 1h da manhã. Como a maioria dos bares não tem espaço dentro das lojas, não resta muita opção a não ser fechar (ou manter os clientes em pé, o que não é muito confortável). A infração da portaria tem como punição a limitação de horário de funcionamento até às 23 horas.
A medida assustou os bares da cidade, principalmente aqueles que estão situados dentro da Avenida do Contorno. Como resultado, temos uma capital dos bares com toque de recolher. Então, se você quer um rolê gratuito que fica aberto até o amanhecer, as opções são limitadas: o Rei do Pastel, conhecido por ser o after das festas, fica aberto 24 horas na Savassi, bem como o Tim Bilhares, localizado na Rua Carijós. Além desses, o Espanta Crise, no Floresta, oficialmente fecha suas atividades às 2h da manhã. No entanto, segundo Gabriela1, de 25 anos, o bar já ficou aberto até às 5h da manhã. Para ela, ele é um bom destino para a madrugada, mas sente falta de ter mais opções.
Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Belo Horizonte tem 178 bares a cada 100 mil habitantes e 12,5 bares a cada quilômetro quadrado. O setor é responsável por uma boa parte da economia da cidade e sua importância deve ser celebrada, não desencorajada. Isso não quer dizer que não deve haver regulamentação para o funcionamento dos bares e botecos, mas sim um diálogo para entender quais são as demandas da população e, assim, encontrar um meio-termo.
Em 2024, a prefeitura tomou outro caminho e não há muita perspectiva de mudança à frente. Ao final de todos os rolês nas noites belorizontinas, a velha pergunta ainda assombra: onde é o pós?
Revisão: Gabriel Barcelos
Gabriela é um pseudônimo. A pessoa entrevistada preferiu não ser identificada.