Sada Cruzeiro se firma no topo como o maior do Brasil, mas ainda apresenta lacunas
O Clube mineiro tem se mostrado um projeto de sucesso desde sua existência, porém, exibe problemas estruturais que impedem o crescimento da equipe.

Por Rodrigo Samuel
Fundação e início de trajetória no vôlei:
A equipe fundada em junho de 2006 ainda não apresentava “Cruzeiro” em seu nome, na época, se chamava Associação Esportiva Sada Vôlei, com sede na cidade de Betim, em Minas Gerais. O clube foi fundado em uma parceria entre a Prefeitura de Betim e o empresário Vittorio Medioli através do Grupo Sada, conglomerado empresarial que atua nos mais diversos setores da economia, como logística, transporte, indústria, comércio, energia, esporte e serviços, do qual ele é o fundador e presidente. Naquele período, o objetivo do clube era a formação de um time competitivo no voleibol local, que representasse a cidade de Betim nas competições regionais e nacionais. No ano de fundação, veio o primeiro título: a Taça Cidade Vitória. Ainda nessa temporada, a equipe ficou com o vice-campeonato mineiro, já que perdeu a final para o Minas e se estabeleceu no terceiro lugar na Liga Nacional, o que garantiu o acesso para a Superliga da temporada seguinte.
Somente em janeiro de 2009 a ascensão do clube veio, quando firmou uma parceria junto à associação do Cruzeiro Esporte Clube, tão renomada no futebol. A partir de então, o clube foi renomeado para Sada Cruzeiro Vôlei. A equipe transferiu sua sede para Belo Horizonte e recebeu um novo centro de treinamentos, o Parque Esportivo do Cruzeiro, localizado no Barro Preto, em BH. A união foi inédita no cenário brasileiro e marcou o início de uma nova era para o time e para o vôlei mundial.
Com investimentos ainda mais elevados do Grupo Sada, a expansão de marca do clube ao se unir com o Cruzeiro que resultou em um aumento exponencial da torcida, gerando ainda mais lucros com bilheteria e vendas de camisas, foi um fator que influenciou para o crescimento da equipe nacional e internacionalmente.
Grandes Conquistas:
A parceria entre o Grupo Sada e a Associação do Cruzeiro se consolidou como uma potência no voleibol mundial. Tendo como objetivo sempre ganhar o máximo de títulos possíveis, essa meta vem sendo cumprida muito bem, até o momento a equipe tem como suas principais conquistas:
Pelos números relatados, ele é o maior campeão de todos os campeonatos, com exceção do Campeonato Mineiro, cujo Minas é detentor desse posto com quatro títulos a mais. Considerado um dos projetos esportivos mais bem sucedidos que já ocorreram em clubes dos mais diversos esportes, em menos de 19 anos, a equipe se tornou um dos maiores clubes de vôlei do mundo, e por uma boa parcela da comunidade de vôlei é considerado o maior clube nesse esporte quando se trata da modalidade masculina.
A comissão técnica do Sada é estável, de 2009 a 2021 teve somente um técnico, o renomado argentino Marcelo Mendez, que criou um padrão de jogo consistente para o time, apoiando-se em um sistema de recepção e de contra-ataques rápidos, ele consolidou a equipe ano após ano, conquistando 37 títulos ao longo desse tempo. Ao sair do clube para assumir um novo projeto no Campeonato Polonês, no plantel do Asseco Resovia Rzeszów, o Sada optou por trazer o técnico Filipe Ferraz, que já havia sido jogador e capitão do Cruzeiro. Já conhecedor do funcionamento do clube, o time se consolidou e gerou sucesso esportivo, ele se encontra no cargo até o momento atual.
Além das conquistas em quadra, a equipe também se destaca por investimentos em projetos sociais. Atualmente, mais de 3000 crianças e adolescentes são atendidos em programas esportivos e sociais ligados ao clube.
Principais problemas da Organização:
Atualmente, o Sada Cruzeiro não apresenta uma equipe feminina a nível profissional, algo cobrado pela torcida do clube, uma vez que o voleibol feminino é uma modalidade popular no Brasil e acompanhado por uma boa parcela da população que se interessa por esportes no país. A falta de um time feminino limita a representatividade do clube no cenário esportivo, além de representar uma lacuna em termos de investimento, visibilidade e estímulo à formação de atletas no segmento feminino.
Essa ausência se deve pela alocação de recursos e prioridades organizacionais direcionadas ao time masculino. Apesar de não ter um time principal feminino, o clube contribui para essa modalidade por meio de projetos sociais e categorias de base. Em parceria com o Sesi-MG, desenvolveu o Projeto Sada Vôlei Sesi, que oferece aulas gratuitas de voleibol para ambos os sexos em diversas cidades de Minas Gerais.
Em 2020, o Grupo Sada, vendo um desenvolvimento dessas garotas do projeto com o Sesi, decidiu tentar fundar um time feminino na cidade de Contagem, mas sem colaboração do Cruzeiro e utilizando apenas as garotas do projeto, sem a contratação de atletas novas, obteve apoio do Tambasa Atacadistas, fundando o “Sada/Tampasa Argos”. No segundo ano de existência, a equipe conquistou a Superliga C e garantiu em 2022 o acesso para a Superliga B, mas obteve quatro derrotas em cinco jogos no torneio e acabou em oitavo lugar dentre os dez da liga, sendo rebaixada. Após isso, a equipe foi descontinuada sem muitas explicações, dando a entender que não teve o retorno desejado, sem uma investida financeira para o projeto prosseguir. Essa situação mostra que o Sada cogitou, há poucos anos, um desenvolvimento no projeto feminino, mas sem apoio da associação do Cruzeiro, consequentemente com menos visibilidade e menor investimento. O episódio deixou claro que, sem o respaldo institucional e financeiro necessários, o vôlei feminino segue fora dos planos prioritários do projeto esportivo no momento.

Outro problema no Sada Cruzeiro vem das categorias de base do time masculino, que são subutilizadas devido a investimentos extremamente pesados em contratações para a equipe principal, fazendo com que os jovens atletas não ganhem espaço na categoria profissional. Apesar de ter aplicações financeiras destinadas ao desenvolvimento da base do clube, realizando peneiras e proporcionando oportunidades periodicamente para jovens garotos, eles ainda assim não conseguem muitas chances na categoria superior.
A competitividade e o nível de excelência exigido, que ainda não consegue ser alcançado, devido à falta de experiência em contexto profissional, pedem atletas que já estejam prontos para suprir os objetivos do clube, que realiza investimentos pesados em atletas já renomados. Essa integração da base para o time principal não se torna algo fluido, causando um processo difícil para eles. Na grande parte das vezes, jogadores precisam ganhar experiência adicional em outras equipes ou competições antes de estarem prontos para atuar no mais alto nível representado pelo Sada Cruzeiro.
Na temporada 2022/23, em que o Sada Cruzeiro foi campeão da Superliga, a equipe apresentava um plantel praticamente todo formado por atletas vindos de outros clubes ou da seleção. Wallace que estava retornando da Turquia, Lucão que fez uma transferência interna saindo do Vôlei Renata, Gabriel Vaccari que estava no voleibol francês, Nicolás Uriante, argentino, que veio do Campeonato Francês para defender o Sada, o cubano Miguel Ángel López que veio da Argentina para jogar no Cruzeiro, entre diversos outros nomes de atletas renomados que chegaram para fazer parte desse projeto, eles não vieram apenas devido a um projeto vencedor, mas devido ao pagamento de valores altos de compra e de salários. Isso torna o desafio para os atletas oriundos das categorias de base ainda maior, já que precisam apresentar um nível de habilidade próximo ao dos jogadores consolidados. Como consequência, muitos acabam buscando oportunidades em clubes menores para ganhar mais tempo de quadra e se desenvolver, com a expectativa de, no futuro, voltar a vestir a camisa do Sada Cruzeiro.
Hoje, no voleibol brasileiro, não é exigido que os clubes apresentem balanços financeiros para o público, mas ao observar os nomes que a equipe traz, ano após ano, fica claro que há um forte investimento financeiro para o time. Um exemplo disso é o caso do atleta Douglas Souza, que chegou ao Sada em 2024 e tem uma longa passagem pela seleção brasileira, em dezembro de 2021, quando ainda estava no voleibol italiano, ele recebia cerca de um milhão de reais anuais em salários, segundo a Folha de Pernambuco . Considerando a inflação e o aumento de sua boa reputação na seleção brasileira de lá para cá, com certeza houve um aumento salarial quando veio para o Sada. Somente o salário que ele recebia na Itália equivale a um quinto do orçamento de clubes da Superliga, como Araguari e Joinville Vôlei, em 2024.
Atualmente, não aparenta ter perspectivas relevantes de mudanças dessa situação, tendo em vista que, hoje, no plantel principal, somente o cubano, Daniel Martínez Campos, subiu diretamente das categorias de base. Porém, a situação do ponteiro é diferente, já que o jovem de 19 anos subiu ao profissional apenas em agosto do ano passado e ele só teve uma breve passagem na base do clube mineiro, tendo chegado ainda em 2024 nas categorias de base da equipe, vindo da base do time do Cocodrilos de Matanzas, de Cuba. Essa curta passagem no sub-21 do Cruzeiro dá a entender que foi apenas uma adaptação ao Brasil e ao campeonato, antes de ter chances na categoria principal, mas que sua contratação não havia sido pensada na formação e adição ao time júnior, e sim já na equipe profissional.
Editoria: Gabriel Martins
Revisão: Gabriel Barcelos
Capa e design para redes: Carolina Cerqueira