Moda Circular na UFMG: como os alunos estão revolucionando o guarda-roupa e o planeta
Brechós, bazares e feiras promovem consumo sustentável e mobilizam estudantes na universidade.
Por Kaio Simião
Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a moda sustentável não chegou com vitrines brilhantes ou discursos prontos. Ela invadiu os corredores pelas mãos de estudantes que decidiram que se vestir bem não precisa custar o planeta, nem o saldo da carteira. Brechós, feiras de desapego e grupos de troca viraram febre, um fenômeno cheio de estilo, crítica e consciência.
Tudo começa de forma simples: uma camiseta esquecida no fundo do armário ganha uma nova chance. Agora imagine isso multiplicado por centenas de estudantes trocando peças em grupos de WhatsApp ou circulando por feiras organizadas pelas próprias instituições estudantis.
Foi o que contou Karine, uma das expositoras da feira realizada na Praça de Serviços da UFMG, no último dia 6 (sexta-feira):
“Tivemos peças com etiqueta! Gente que comprou, não usou e doou.”
Mas mesmo as peças mais usadas recebem atenção especial. Karine explicou que cuida de tudo com atenção pessoal: “Nosso acervo é curado com filhos do terreiro. Lavamos, costuramos e revitalizamos tudo para dar nova vida”.
Por que a moda circular combina tanto com a vida universitária?
Na correria entre xerox, trabalhos em grupo, estágio e o barzinho depois da aula, o estudante universitário precisa fazer milagre com o orçamento. E quando o dinheiro é curto, o guarda-roupa também sente o impacto.
É aí que entra a moda circular: além de ser mais econômica na maioria dos casos, ela também é uma resposta urgente aos impactos ambientais da indústria têxtil, destacada como a segunda mais poluidora do mundo em levantamento publicado pela Global Fashion Agenda, organização sem fins lucrativos, em 2022. A proposta é simples: prolongar a vida útil das peças, reutilizando, trocando, customizando ou revendendo aquilo que já existe. Projetos como o “Troca Sustentável”, da universidade, também já desviaram centenas de peças do lixo.
E esse movimento não é só local. Em 2023, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) revelou que o Brasil já contava com mais de 118 mil brechós ativos, representando um aumento de quase 31% em cinco anos. Esse crescimento mostra como a moda circular vem ganhando espaço na vida das pessoa, como acontece com a Maria Luíza, estudante Letras do terceiro período:
“Eu acho legal consumir coisas de desapego durante a faculdade, porque eu não tenho o costume de ir ao shopping, sabe? E compro muita coisa online, então comprar nesses grupos acaba sendo um consumo mais consciente.”
Não é só roupa velha, também se trata de um ativismo silencioso, como resume Karine:
“Reduz desperdício e combate preconceito. Queremos normalizar que brechó é estilo com atitude”.
Atitude e estilo na UFMG tem pra todos os gostos - vintage, urbano, clássico com moderno, tudo se mistura, e as roupas de segunda mão viram justamente o segredo para fugir da mesmice das vitrines.
E aí, qual história seu guarda-roupa conta?
Por trás de cada peça garimpada no brechó ou trocada entre colegas, há uma escolha: a de consumir com mais consciência, estilo e personalidade. Por que se contentar com peças que todo mundo tem, quando a moda circular oferece um universo de possibilidades que vai além das etiquetas? Aqui, a moda vai para além das peças, é se expressar, questionar e, claro, ficar bem vestido.
Já parou pra pensar no que seu guarda-roupa diz sobre você? Para alguns, a moda sustentável é um legado.
“Sonhamos com um brechó que una gerações, onde uma calça vira memória afetiva e não lixo”, resume Karine.
Para estudantes como Maria Luíza, é autonomia:
“Sinto que não sou consumista. Troco, não acumulo”.
Seja por afeto, por consciência ou por praticidade, o fato é que uma nova geração de estudantes está reinventando a forma de consumir moda dentro da universidade. E quem ainda não entrou nessa onda, ainda está em tempo.
Onde encontrar essas oportunidades?
Na universidade, isso rola de várias formas: grupos no WhatsApp, páginas no Facebook, feiras presenciais e eventos organizados por atléticas e centros acadêmicos. Além disso, algumas iniciativas institucionais arrecadam dinheiro para causas importantes, mostrando que a moda sustentável é democrática e engajada.
Um destaque é o Aléxia Brechó, localizado próximo à portaria 1 da UFMG na Av. Antônio Carlos, que oferece peças garimpadas com consciência ambiental. Além disso, há feiras periódicas que acontecem em diversos espaços do campus, movimentando a troca consciente entre estudantes.
Grupos de WhatsApp “Desapegos Flor de Índio - UFMG” e “Brechó Feminino - UFMG”, este último com mais de mil integrantes engajados em trocas e vendas entre alunos e moradores das redondezas, fortalecendo a moda circular dentro desse contexto.
Bazar das Meninas LIVRE UFMG: Grupo no Facebook voltado para compra, venda e troca de produtos entre mulheres que estudam, trabalham ou circulam pela UFMG,
Dica: fica de olho nos murais do campus e nos grupos estudantis, é ali que geralmente rolam as divulgações desses movimentos.