Gabriel Bortoleto: o Brasil no Grid
Após sete anos, o país volta a ter um representante na elite do automobilismo; Conheça o jovem piloto que conquistou seu lugar na Fórmula 1
Por Soraia Carvalho
Ao final de 2024, a equipe Stake F1 Team Kick Sauber anunciou o nome que ocuparia seu último assento para a temporada seguinte: Gabriel Bortoleto, o campeão da Fórmula 2. O feito oficializou o retorno de um brasileiro à Fórmula 1, sete anos após a saída de Felipe Massa. Mas quem é o garoto que traz de volta a bandeira verde e amarela ao grid?
Gabriel Lourenzo Bortoleto Oliveira tem 20 anos e nasceu em Osasco, na Região Metropolitana de São Paulo. É filho de Andrea Bortoleto e Lincoln Oliveira da Silva, empresário fundador da Americanet e acionista do grupo controlador da Stock Car Brasil — velha conhecida da UFMG.
Gabriel deu seus primeiros passos no automobilismo aos sete anos de idade, influenciado por seu irmão mais velho, Enzo Bortoleto. Pouco tempo depois, Enzo — que hoje atua no departamento de desenvolvimento técnico e tecnológico da Stock Car — decidiu abrir mão da própria carreira para apoiar o caçula. A decisão foi motivada por dificuldades financeiras da família: sustentar dois pilotos nesse esporte, um dos mais caros do mundo, era inviável.
Após um início promissor no kartismo brasileiro, marcado pela participação no Campeonato Sul-Brasileiro de Kart em 2012 e a conquista do Open Brasileiro na categoria Mirim no mesmo ano, Bortoleto partiu para a Europa em 2013, mirando voos maiores. Lá, ele continuou a obter bons resultados, alcançando o terceiro lugar nos campeonatos Europeu e Mundial de Kart na categoria OK Junior, o título de campeão sueco e o vice-campeonato na WSK Super Master Series.
A transição dos karts para os carros de fórmula aconteceu em 2020 na Fórmula 4 Italiana, com a prestigiada equipe Prema Powerteam. Na temporada de estreia, ele conquistou quatro pódios e encerrou o campeonato em quinto lugar. Em seguida, correu por dois anos na Fórmula Regional Europeia (FRECA), onde mostrou potencial para subir mais um degrau.
Um ano mais tarde, assinou com a Trident Motorsport para disputar a Fórmula 3. Neste período, o piloto já era assessorado pela A14, empresa de gestão de carreira fundada por Fernando Alonso. Graças a isso, o bicampeão mantém uma relação próxima com o brasileiro, servindo como uma espécie de mentor. A vitória de Gabriel logo na sua estreia no Bahrein foi um spoiler do ano de destaque que viria pela frente. Ao fim da temporada, ele se tornou o primeiro brasileiro a conquistar o título da F3. No automobilismo, pilotos que conquistam um título logo em sua temporada de estreia costumam atrair grande atenção de equipes e patrocinadores. Exemplos marcantes são Oscar Piastri, campeão da Fórmula 2 em seu ano de estreia e atual líder da Fórmula 1, e Charles Leclerc, conhecido como “ O Predestinado”, apelido que reforça a crença em seu futuro promissor nas pistas.
Poucos meses após o título, o jovem deu mais um passo rumo à elite do automobilismo ao ser contratado pela McLaren Academy, programa de desenvolvimento de jovens talentos da equipe 9 vezes campeã mundial. O contrato abriu portas: aprendizado com engenheiros e pilotos de ponta, além de acesso a uma das estruturas mais renomadas do esporte.
Mas não o bastante, em 2024, correndo pela equipe Invicta Racing, Gabriel mostrou ter rápida adaptação aos carros da Fórmula 2 e fez uma temporada sólida, com duas vitórias. A mais impressionante, sem dúvidas, foi em Monza, onde largou em 22º e cruzou a linha de chegada em primeiro lugar, após uma corrida marcada por boas estratégias e direção precisa.
O ponto alto da temporada veio junto a uma segunda colocação no Grand Prix de Abu Dhabi: a conquista, novamente como estreante, do campeonato. Bortoleto chegou à última etapa com apenas 4,5 pontos de vantagem sobre o vice-líder, Isack Hajdar. Ao largar em segundo, uma posição à frente do francês, o brasileiro o superou logo na saída, uma vez que Hadjar deixou o carro morrer ainda na largada.
A performance na Fórmula 2 lhe rendeu o prêmio de Rookie do ano pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA), entregue pelas mãos do piloto campeão da Fórmula 1 de 2024, Max Verstappen.
Com o segundo título consecutivo em mãos, Gabriel teve seu passaporte marcado com o almejado selo da Fórmula 1, a Sauber assinou um contrato multianual com o jovem prodígio. O brasileiro já era especulado para ocupar o segundo assento desde julho, mas Valtteri Bottas ainda disputava a sua permanência. A decisão da equipe, conforme declarou o diretor Mattia Binotto, foi motivada pela impressionante ascensão de Bortoleto nas categorias de base do automobilismo e por suas “conquistas fora do comum”. Agora, correndo com o carro verde número 5, Bortoleto é companheiro de equipe do experiente Nico Hülkenberg.
As expectativas para a temporada do piloto brasileiro são altas, mas é preciso ter cuidado e racionalização nesse período. A Sauber está longe de ser uma equipe de ponta, é na verdade considerada uma das – se não a pior – equipe do grid. Em 2024, ficou na última colocação do Campeonato Mundial de Construtores, marcando apenas quatro pontos.
Dadas as limitações do carro, já reconhecidas publicamente pela própria equipe, especialistas e entusiastas do esporte concordam que o foco de Bortoleto em seu ano de estreia não será alcançar pódios, mas sim em exibir o seu potencial. Logo, mostrar-se competitivo, especialmente em comparação a Hülkenberg, é essencial para avaliar seu desempenho.
Gabriel teve um início animador: mostrou bons tempos nos treinos e chegou a colocar o seu carro no Q2* na primeira classificação do ano. Contudo, seu primeiro GP terminou com uma batida, que pode ter sido causada por sua inexperiência com as novas pistas e o novo carro em um asfalto molhado pela chuva. Apesar do talento, Gabriel é um piloto novato em processo de adaptação à Fórmula 1.
A verdade é que o projeto Gabriel-Sauber é de longo prazo. Na próxima temporada a equipe se tornará oficialmente Audi F1 Team. A montadora alemã, que inicialmente forneceria apenas os motores– com base na mudança do regulamento das unidades de potência da F1 para a próxima temporada –, adquiriu 100% da equipe suíça. A esperança é que esse seja o início de um projeto vitorioso, no qual o Gabriel fará parte desde o princípio.
*A classificação para um Grande Prêmio de Fórmula 1 acontece em três etapas: Q1, Q2 e Q3, que duram 18, 15 e 12 minutos, respectivamente. Os cinco pilotos mais lentos são eliminados após o Q1, o mesmo acontece no Q2, definindo assim as posições de largada do 20º ao 11º lugar.
Editoria: Gabriel Martins
Revisão: Gabriel Barcelos
Capa e design para redes: Carolina Cerqueira