Entre testes e apostas, Vôlei Sub-23 do Brasil confirma potencial
Seleção brasileira de vôlei feminino alcança pódio na Copa América 2025 e promete resultados maiores para os Jogos Pan Americanos Júnior
Por Maria Eduarda Collares
Entre os dias 2 a 6 de julho, Betim foi sede da primeira edição da Copa América de Vôlei Feminino no renomado Ginásio Poliesportivo Divino Braga. A competição, que contou com as seleções da Argentina, Chile, Peru, Venezuela e Brasil, se destacou entre os demais campeonatos da temporada ao colocar o time sub-23 verde e amarelo para enfrentar as equipes profissionais pelo título sul-americano. As atletas competiram não só com a experiência, mas também com o nível de entrosamento das demais seleções, já que a Copa América 2025 foi a estreia da composição das jogadoras de base do Brasil, que nunca jogaram juntas até então.
Mesmo que ambiciosa, a estratégia da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) se alinha com as prioridades da seleção principal nesta temporada, que visa resultados a longo prazo e o fortalecimento da equipe no ranking mundial. Um dos caminhos para isso é a Liga das Nações de Vôlei, ou Volleyball Nations League (VNL), que acontece entre os dias 4 de junho e 27 de julho de 2025.
Com mais prestígio que a Copa América, a VNL é considerada um dos cinco principais torneios internacionais para a Federação Internacional de Voleibol (FIVB). Todo ano, as 18 maiores seleções do mundo, de acordo com os parâmetros da FIVB, se reúnem para lutar pelo título e, o mais importante, para somar pontos no ranking mundial da instituição, que é o principal critério para a classificação e chaveamento olímpico e nos mundiais.
Sendo esse o direcionamento de nomes queridinhos do vôlei como as ponteiras Ana Cristina, Gabi e Julia Bergmann, a responsabilidade de levar a bandeira de uma das seleções mais tradicionais do vôlei ficou a cargo das novatas do time de base e sob o comando do técnico Marcos Miranda, o Marcão, treinador do Praia Clube na última edição da Superliga Feminina.
As convocadas para a Copa América vieram de diversos clubes do país e do mundo, com destaques em suas atuações durante a última temporada. Foram elas: as levantadoras Maria Clara Carvalhaes e Heloise Soares; as opostas Gabi Carneiro e Jaque Schmitz; as ponteiras Maria Clara Andrade, Camilly Salomé, Ana Rudiger e Stephany Gomes; as centrais Adria, Juju, Thays e Lívia e, por fim, as líberos Leticia Holanda (Lelê) e Sophia. Alguns nomes já representaram a seleção nas demais divisões femininas de novos (atletas de base) e se tornaram conhecidos no meio, como a paranaense Ana Rudiger, atleta da equipe japonesa Victorina Himeji em 2024/2025, e a líbero Lelê, ex-atleta do Fluminense F.C. e atual contratada do Tijuca Tênis Clube.
Mais do que jogadoras de alto nível, a seleção feminina de novos sub-23 vem como uma promessa: desenvolver suas individualidades enquanto encontram a harmonia necessária para um time cheio de talentos. Qualidades colocadas à prova no torneio sul-americano.
“É exatamente para poder dar rodagem, para poder conhecer melhor a equipe de forma coletiva e individual”, disse o técnico Marcão ao “O Tempo” antes da partida contra o Chile.
COPA AMÉRICA PONTO A PONTO
No sistema de pontos corridos, ao longo dos cinco dias de competição o Brasil duelou com as quatro adversárias da Copa América, o que tornou cada partida uma corrida contra os números e com pódios sendo decididos em cada set. Afinal, não bastava garantir a vitória e os três pontos na tabela, mas também se garantir com o máximo de sets possíveis, sendo eles os critérios de desempate do torneio.
A estreia teve o Brasil ganhando da Venezuela por 3 sets a 0, com parciais de 25/12, 25/16 e 27/25, com um último set acirrado e decidido pela competência dos bloqueios e saques da equipe brasileira. Já a segunda rodada complicou a colocação da seleção com a derrota de 3x1 para o Peru. A seleção da Argentina ficou, então, na liderança, somando dois jogos e duas vitórias a 3x0. Em clima de semifinais, a campanha ruim do Chile até então ajudou o Brasil a pontuar. Graças às jogadoras Lívia, Maria Clara Andrade e Lelê, a vitória contra as chilenas por 3x0 fez com que o destino da seleção brasileira estivesse totalmente dependente da última partida da Copa contra o rival mais clássico do país, independente do esporte: Argentina.
Com as peruanas tendo encerrado sua participação na rodada anterior, encerrando a Copa com 9 pontos e 9 sets ganhos, a situação da equipe brasileira era complicada e a tabela não deixava mentir. Peru, Argentina e Brasil estavam garantidos no pódio, mas faltava saber quem ocuparia cada lugar. A única possibilidade do título da Copa América ser do Brasil era com uma vitória de 3x0 contra uma seleção invicta, principal e estrategicamente sedenta.
Diferente da abordagem brasileira na competição, a atuação da seleção argentina representava uma chance de voltar ao alto escalão do vôlei mundial. Na briga por uma vaga na próxima edição da VNL, a Argentina conta com 184,90 pontos no ranking da FIVB, 7,2 pontos atrás da Ucrânia, melhor seleção ranqueada não participante da Liga das Nações. Por não estar na VNL, toda competição apoiada pela FIVB que a seleção argentina participa, como é o caso da Copa América 2025, se converte em pontos no ranking mundial e dá chances à equipe de ultrapassar a Ucrânia, então levar as principais do país se mostrou como a escolha óbvia. Era tudo ou nada.
Na final emocionante no Divino Braga, o Brasil entrou em quadra pressionado. Mesmo com boas respostas das ponteiras Maria Clara e Ana Rudiger, o primeiro set por 25/17 para a Argentina acabou com a chance da seleção sub-23 de conquistar o título. Lutando pela prata, a central Lívia se destacou e esboçou com a equipe uma reação no segundo set, mas a constância da seleção argentina e o ace da oposta Bianca Cugno fechou o set decisivo para a vitória da Argentina: mais um 25/17. Com o bronze no peito, o Brasil não deixou a torcida brasileira sem ver um set. Apoiado pela liderança da ponteira Stephany, o Brasil cresceu no terceiro set e, com um bloqueio em Bertolino, fechou o placar com 25/21. A vontade de ganhar a partida de virada agitou o Divino Braga, mas ao retomarem o controle do jogo com passes limpos e 4 aces, a campeã da Copa América 2025 matou o set por 25/15.
Em entrevista à RU3, a atleta Lívia, central pelo Brasília Vôlei, comentou sobre a disputa e reforçou os principais aprendizados da seleção com a Copa América. Um time recém unido, mas com grandes planos.
“A gente veio para isso, para ter um aprendizado, para ter uma rodagem, uma experiência com os jogos. Nosso campeonato principal é o Pan. A gente veio com uma equipe que vai jogar o Pan, enquanto elas vieram com a equipe adulta. A gente sabia que ia ser difícil, mas a gente veio e enfrentou!”
Mesmo com um 3x1 na conta e o 3° lugar no pódio, as brasileiras foram ovacionadas pela torcida e não saíram de quadra de mãos vazias. Além de Ana Rudiger e Lelê serem eleitas como melhor ponteira e melhor líbero, respectivamente, a seleção deixou a competição com muita bagagem para enfrentar desafios maiores: os Jogos Pan-Americanos Júnior de Assunção-2025, que acontecem de 9 a 23 de agosto na capital do Paraguai.
O evento, que contará com mais de 41 países, incluindo as seleções enfrentadas na Copa América 2025, não só oferece uma plataforma de desenvolvimento para as 16 atletas brasileiras, mas também a oportunidade de se classificarem para os Jogos Pan-Americanos de Lima 2027. Um salto da base para a rotina do alto rendimento no voleibol.
Editoria: Gabriel Martins
Revisão: Gabriel Barcelos